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Para Temer, Bolsonaro não promoverá nova escalada da crise institucional

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Ex-presidente conta que convenceu Bolsonaro a assinar o manifesto com o argumento de que todos ganhariam com o gesto

Temer: ele conta que convenceu Bolsonaro a assinar o manifesto com o argumento de que todos ganhariam com o gesto (Alan Santos/PR/Flickr)

Responsável por construir boa parte do texto pelo qual o presidente Jair Bolsonaro sinalizou com o cessar-fogo aos demais Poderes da República, o ex-presidente Michel Temer acredita que não há no horizonte o risco de uma nova escalada na crise institucional. Ele, porém, não bota a mão no fogo pela nova postura adotada pelo atual titular do Palácio do Planalto.

— Vi tanto entusiasmo nele (Bolsonaro), nas pessoas que se manifestaram e nas pessoas do governo, que eu não vejo risco (de nova tensão), mas evidentemente não posso garantir o que vai acontecer lá na frente. Mas não creio (em recuo), é um documento escrito, não é uma fala verbal — justificou Temer em entrevista ao GLOBO.

Ele conta que convenceu Bolsonaro a assinar o manifesto com o argumento de que todos ganhariam com o gesto.

— Fiz uma conversa inicial com ele, antes de apresentar o documento, mostrando que era importante para o país. Que ele, como presidente da República, deveria também pregar uma certa pacificação porque seria útil pra ele, para o país e útil para o governo. E ele logo se convenceu, não teve dúvida em relação a isso — contou o ex-presidente ao desembarcar em São Paulo, depois da reunião em Brasília.

Segundo o ex-presidente, desde a véspera dos atos 7 de Setembro, quando Bolsonaro fez ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) ele passou a ser receber apelos para que intercedesse na tentativa de amainar o conflito do Executivo com Judiciário e Legislativo

— De segunda-feira para cá, muitas pessoas tinham me procurado dizendo que, como ex-presidente, uma voz moderada, tinha entrar nisso para ajudar a pacificar as coisas. E eu resolvi entrar — disse.

Os atos do Dia da Independência, organizados pelos apoiadores do presidente, tiveram como principal alvo o ministro do STF Alexandre de Moraes, relator do inquéritos em que Bolsonaro figura como investigado. Em seus discursos, o próprio Bolsonaro classificou o magistrado como “canalha” e disse que não iria mais cumprir decisões judiciais proferidas por ele.

Moraes chegou ao Supremo em fevereiro de 2017, durante o governo de Temer, do qual foi ministro da Justiça. Eles são próximos até hoje.

— Antes de falar com o presidente Bolsonaro, falei com o ministro Alexandre. Troquei ideias com ele, que me disse que decide juridicamente, que não tem nada pessoal contra ninguém. E está corretíssimo — disse o ex-presidente, que mediou uma ligação entre Bolsonaro e Moraes.

Pressionado pela repercussão negativa dos ataques disparados na terça-feira, Bolsonaro procurou Temer no dia seguinte. Ontem pela manhã, ele telefonou novamente, pediu que seu antecessor comparecesse ao Planalto e enviou um avião para buscá-lo.

Temer chegou a Brasília, por volta das 11h, já com a proposta de manifesto de pacificação pronta. O presidente, segundo ele, leu e fez apenas duas alterações. A carta em tom moderado foi divulgado às 16h25 no site do Palácio do Planalto.

— Almocei com ele e levei um documento mais ou menos pronto, uma declaração. Ele fez duas observações e disse que estava de acordo.

No documento, Bolsonaro disse que suas “palavras, por vezes contundentes, decorreram do calor do momento e dos embates que sempre visaram o bem comum”. O presidente afirmou ainda que nunca teve “intenção de agredir quaisquer dos Poderes”. “A harmonia entre eles não é vontade minha, mas determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar”, afirmou.

O recuo não agradou a base bolsonarista que foi às ruas no 7 de Setembro em defesa do governo e pedindo o fechamento do STF. Apesar disso, Temer disse acreditar que Bolsonaro não retomará a postura de conflito, embora não possa dar garantias.

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