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Tarcísio vence Haddad e será primeiro governador de SP não tucano eleito em 28 anos

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Tarcísio de Freitas em evento com Jair Bolsonaro no interior de São Paulo — Foto: Reprodução/ Twitter: Tarcísio de Freitas

Ex-ministro da Infraestrutura de Jair Bolsonaro (PL) foi eleito na esteira da popularidade do presidente no estado.

O ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) confirmou seu favoritismo no segundo turno da corrida eleitoral pelo governo de São Paulo e venceu o petista Fernando Haddad.

Tendo se mudado para o estado neste ano após ter feito carreira no setor público em Brasília, o bolsonarista vai dar fim à hegemonia do PSDB no comando do estado mais rico e populoso do Brasil. Os tucanos assumiram o governo de São Paulo em 1995, com Mário Covas, e conseguiram reeleger seus sucessores desde então nas seis eleições seguintes.

Hoje governador eleito, Tarcísio de Freitas venceu neste domingo a primeira eleição que disputou em 47 anos de vida. Até o ano passado, o ex-ministro da Infraestrutura de Bolsonaro já sabia que iria disputar um cargo eletivo, mas à época cogitava concorrer a uma vaga ao Senado em Goiás. A disputa pelo Palácio dos Bandeirantes foi decidida e estimulada pelo próprio presidente Bolsonaro.

Tarcísio foi eleito com o apoio de uma ampla aliança de partidos políticos que incluiu, no segundo turno, o atual governador paulista e candidato derrotado no primeiro turno Rodrigo Garcia e o diretório estadual do PSDB. Ao todo, as siglas da base aliada de Tarcísio elegeram cerca de dois terços da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).

Formado em engenharia pelo Instituto Militar de Engenharia (IME), no Rio de Janeiro, Tarcísio foi oficial do Exército. Nas Forças Armadas, chegou a participar da Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti.

É considerado por seu entorno como estudioso, disciplinado e ambicioso. Em 2011, conquistou seu primeiro cargo de confiança de relevância ao ser nomeado pela então presidente Dilma Rousseff para ser diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT).

Em 2015, a fama de bom técnico rendeu a Tarcísio outra nomeação de peso, a de secretário do recém-criado Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), órgão responsável pela modelagem de concessões de ativos à iniciativa privada.

Tarcísio costuma dizer que só poderia se tornar ministro em um governo chefiado por Bolsonaro porque o presidente o teria escolhido exclusivamente por critérios técnicos. À frente do Ministério da Infraestrutura, acelerou o cronograma de leilões de concessão e passou à iniciativa privada 81 ativos em três anos e meio, o que lhe rendeu elogios de grandes empresas.

Apesar disso, sob sua gestão o investimento em infraestrutura no país atingiu mínimos históricos. Segundo dados da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), o país investiu 1,57% do PIB em infraestrutura em 2021, último ano de Tarcísio à frente do ministério.

Estratégia vitoriosa

A estratégia da campanha implementada pelo marqueteiro argentino Pablo Nobel, que atuou na campanha presidencial de Alberto Fernández no país vizinho, foi a de vender Tarcísio, ao mesmo tempo, como um aliado fiel do presidente da República, mas um “bolsonarista light”. O objetivo, desde o início, era angariar o eleitorado de Bolsonaro sem trazer para si a rejeição relacionada com temas mais polêmicos como o negacionismo da pandemia.

A aposta central da campanha era de que a eleição em São Paulo tenderia a refletir a polarização nacional e que, com isso, Tarcísio e Haddad seriam os favoritos. Os desafios maiores de Tarcísio, porém, eram o de tornar-se conhecido e disputar os eleitorados de direita e centro-direita com o tucano Rodrigo Garcia, que por sua vez concentrou esforços no apoio de prefeitos do interior.

Ainda no primeiro turno, o candidato do bolsonarismo conseguiu costurar o apoio de seis partidos. Ademais do Republicanos e do PL, deram suporte a Tarcísio o PSD de Gilberto Kassab, além de PTB, PSC e PMN. O grande trunfo político dessa fase da campanha foi o endosso da sigla de Kassab, que indicou o vice da chapa, Felício Ramuth, ex-prefeito de São José dos Campos (SP), uma das maiores cidades do interior paulista, com 730 mil habitantes.

Um dos responsáveis pela articulação com o PSD, o ex-ministro Guilherme Afif Domingos foi responsável pela coordenação do plano de governo. Afif foi assessor do ministro da Economia, Paulo Guedes, e assumiu o posto na campanha de Tarcísio a pedido do bolsonarista.

De perfil centralizador e disciplinado, Tarcísio ouviu poucas pessoas durante sua campanha e chegou a isolar figuras do Republicanos na hora de tomar decisões. Ao longo do primeiro turno, enfrentou questionamentos de adversários por ser um forasteiro na política paulista, mas manteve-se firme na aposta da nacionalização da eleição estadual.

Apesar de gafes cometidas pelo candidato no segundo turno que reforçaram sua imagem de forasteiro, a estratégia de Tarcísio de colar na imagem de Bolsonaro foi bem-sucedida e o candidato chegou ao segundo turno na liderança, com 42,32% dos votos válidos contra 35,70% de Fernando Haddad. O desempenho do candidato foi melhor do que o que previam as pesquisas de intenção de voto, que o mostravam em segundo lugar, atrás do rival petista.

Nos dias seguintes à eleição, o desempenho surpreendente do bolsonarista deu à sua campanha a aura de favoritismo. Com a perspectiva de poder no horizonte, Tarcísio angariou dois o apoio de Garcia e de partidos importantes, como MDB, PP e União Brasil.

Tiroteio em Paraisópolis

A imagem de favorito de Tarcísio só foi arranhada após as repercussões da troca de tiros ocorrida durante uma agenda do bolsonarista na favela de Paraisópolis no dia 17 de outubro.

Se no dia, Tarcísio falou que se tratava de um ataque do crime organizado contra sua candidatura, todos os indícios apontaram para um confronto não direcionado ao bolsonarista. Segundo a Polícia Civil, a hipótese mais provável é a de que suspeitos ligados ao crime organizado desconfiaram da presença de agentes de segurança à paisana na comunidade e que tentaram intimidar policiais. Felipe Silva de Lima, de 27 anos, foi morto no confronto, mas não foi encontrada nenhuma arma junto ao corpo.

Na última semana da campanha, a divulgação de um áudio em que um agente licenciado da Abin que fazia parte da campanha de Tarcísio pedia ao cinegrafista Marcos Andrade que apagasse imagens feitas durante o confronto colocaram a campanha de Tarcísio em suspeição.

Em seguida, uma entrevista de Andrade ao jornal Folha de S.Paulo em que o profissional afirma que a campanha havia pedido à emissora Jovem Pan sua demissão aprofundaram a crise no entorno de Tarcísio. Outra reportagem, do portal The Intercept Brasil, mostrou que testemunhas do confronto dizem que seguranças de Tarcísio teriam disparado contra Felipe, que estaria desarmado.

No último debate antes do segundo turno, Fernando Haddad criticou a pressão da campanha de Tarcísio sobre o cinegrafista. — Não se destrói provas, evidências, se confia na autoridade policial — disse.

Apesar da crise na campanha, no entanto, Tarcísio conseguiu manter um bom desempenho eleitoral no interior do estado, o que lhe rendeu a vitória.

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