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Queda em vacinação gera risco de retorno de doenças graves no Brasil

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Webinar da Bússola debateu histórico do programa de imunização brasileiro e desafios futuros para proteção da população contra doenças já erradicadas antes

Campanha é estendida até dia 30 de setembro (Images By Tang Ming Tung/Getty Images)

O Programa Nacional de Imunização do Ministério da Saúde, que completa 50 anos em 2023, é considerado referência internacional. Infelizmente, nos últimos anos, a procura pelas vacinas — que são aplicadas gratuitamente na rede pública — tem diminuído preocupantemente.

Esse foi o tema do webinar da última quarta-feira, comandado pelo jornalista Rafael Lisbôa, diretor da Bússola.

Para que exista proteção coletiva, o recomendável é que entre 90% e 95% das crianças estejam imunizadas. Mas, em 2021, os índices não chegaram nem perto disso. Tomaram a vacina BCG (contra a tuberculose) e a 1ª dose da tríplice viral (contra o sarampo, a caxumba e a rubéola) apenas 68% e 73% do público-alvo, respectivamente. A taxa de cobertura contra a paralisia infantil atingiu apenas 69% e contra o rotavírus foi de 70%.

Para Ana Paula Burian, médica pediatra e infectologista, coordenadora do Centro de Referências para Imunobiológicos Especiais no Hospital Infantil Nossa Senhora da Glória de Vitória, os fatores para essa tendência são múltiplos. “Primeiro, as vacinas são vítimas de seu próprio sucesso: no passado, ver pessoas com doenças que traziam risco de óbito ou sequelas, incentivava os pais a levarem seus filhos para vacinar. Depois, a entrada da mulher no mercado de trabalho e os horários de atendimento dos postos e clínicas dificulta a adesão vacinal. Além disso, é fundamental trazer informação para as pessoas de modo que o comportamento mude”, afirma.

Segundo Daniel Jarovsky, médico pediatra e infectologista, secretário do Departamento de Imunizações da Sociedade de Pediatria de São Paulo, a mudança  na forma de contabilizar os dados da vacinação impactou a contagem: “Antes se verificava a cobertura vacinal pelo número de doses aplicadas, dividido pela população; atualmente, se considera o número de indivíduos vacinados”, explica. Ele reforçou ainda a omissão do governo nas campanhas de vacinação: “As vacinas oferecem proteção individual, mas é essencial que o coletivo também esteja vacinado. Além da baixa cobertura vacinal, a falta de saneamento básico ou sua precariedade também são fatores de risco na disseminação de doenças”, declara.

Com a campanha estendida até 30 de setembro por conta da baixa adesão da população e recente caso notificado nos Estados Unidos, a poliomielite, popularmente conhecida como paralisia infantil, foi tema da conversa. Jarovsky destacou a alta probabilidade do retorno da pólio no Brasil também por conta de problemas sérios em saneamento básico, agravados em regiões específicas do país. “Infelizmente, talvez seja uma questão de tempo para que haja casos de poliomielite no Brasil”, diz.

Ana Paula é ainda menos otimista: “Além da baixa taxa de vacinação e da questão da falta de saneamento básico adequado, gostaria de destacar a falta de preparo dos médicos para diagnosticar esta doença. São mais de 30 anos sem poliomielite no Brasil, as novas gerações de médicos não têm preparo clínico para identificá-la, sendo assim, pode ser que a pólio já esteja entre nós e sequer saibamos”.

Sobre meningite, o Jarovsky destacou a gravidade desta doença e o histórico do Brasil que, nas décadas de 1970 e 1990, foi palco de um dos maiores surtos de meningite meningocócica no mundo. “Apesar de não ser uma doença comum, ela é dramática pelos efeitos que causa, alta taxa de mortalidade e sequelas irreversíveis”.

Ana Paula tratou ainda da vacinação de adolescentes — oferecida pelo Ministério da Saúde para a faixa etária de 11 a 14 anos. Ela destacou que o imunizante serve também para que esta população não transmita a meningite meningocócica, já que, normalmente, os jovens são portadores nasais sem sintomas, mas podem contaminar pessoas de outras faixas etárias. “Tanto a meningocócica quanto a contra o HPV são fundamentais nesta faixa etária, de modo a controlarmos estas doenças no futuro, para benefício deles”, afirma.

Ela também falou sobre o Crie, Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais. “Esses centros existem no Brasil desde 1993 e hoje contam com 52 unidades”. “O SUS é pensado na igualdade, já o Crie é idealizado a partir da equidade: atendimento personalizado para quem tem mais vulnerabilidade e precisa de atendimento médico / vacinação especiais. Aqui se incluem pessoas com baixa imunidade, prematuros, cardíacos, diabéticos, transplantados de medula óssea ou órgãos sólidos, pacientes oncológicos em tratamento com quimioterapia e pessoas que vivem com HIV”, declara.

Por fim, a importância da vacinação como pacto social que traz melhor qualidade de vida para a população e mesmo como garantia de retorno financeiro para o Estado (economiza-se com tratamentos de doenças preveníveis, permite uma população saudável e economicamente ativa, etc.) foi unanimidade entre especialistas. O Jarovsky destacou a importância da participação do médico na conscientização das pessoas sobre a vacinação, e Ana Paula, a importância da educação contra campanhas de desinformação por movimentos antivacinas, que se baseiam em fake news e dados distorcidos.

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