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Mulher que acordou do coma e denunciou marido por queimaduras relata luta para sobreviver: ‘Fui forte’

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Foto: Arquivo pessoal

Ainda em recuperação das graves queimaduras sofridas em um ataque praticado pelo próprio marido em maio deste ano em Franca (SP), Dara Cristina de Andrade Rossato, de 27 anos, diz que lutou com todas as forças para sobreviver e que espera que o companheiro pague pelo crime.

Thiago Ricardo Rocha Gonçalves foi preso em julho depois que Dara saiu do coma e conseguiu denunciá-lo. No dia do ataque, o suspeito havia contado à polícia que a mulher tinha sofrido um acidente doméstico com álcool.

“Eu lutei pela minha vida, para estar aqui, para ver meus filhos de novo. Eu lutei, eu fui forte, senti dor, uma dor insuportável, os curativos doíam muito, muito, muito. Mas eu queria muito sobreviver. Eu não desejo mal para ele, mas sei que ele tem que pagar. Só isso. Tudo que está acontecendo comigo agora ele tem culpa, 100% de culpa de tudo.”

Dara voltou a Franca após receber alta do Hospital das Clínicas em São Paulo (SP), onde foi tratada. No início de agosto, ela precisa voltar à unidade de saúde onde passará por avaliação médica em razão dos enxertos.

Dara Cristina de Andrade Rossato sofreu graves queimaduras após ser atacada pelo marido em Franca, SP — Foto: Arquivo pessoal

Dara Cristina de Andrade Rossato sofreu graves queimaduras após ser atacada pelo marido em Franca, SP — Foto: Arquivo pessoal

A jovem ainda se prepara para enfrentar uma cirurgia mais drástica. Por causa da gravidade dos ferimentos, ela deve amputar o pé direito.

“O mais difícil é saber que eu vou perder o meu pé, eu tenho meus filhos para cuidar. Eu fico imaginando como vai ser depois que eu não tiver meu pé mais. Como eu vou levantar, andar, cuidar dos meus filhos, levar eles na escola.”

Ataque dentro de casa

Segundo a polícia, o ataque aconteceu no dia 26 de maio, na residência do casal em Franca. Vizinhos disseram que ouviram uma discussão e pedidos de socorro de Dara. O marido contou que estava no banheiro quando ouviu a mulher pedindo ajuda, com o corpo em chamas. Thiago disse na época que Dara estava lavando roupas com álcool e depois foi cozinhar.

A jovem foi socorrida inconsciente para a Santa Casa de Franca, mas acabou sendo transferida para São Paulo, onde permaneceu sedada e intubada até o fim de junho. Só depois de acordar do coma é que ela conseguiu gravar um vídeo e denunciar Thiago.

“Isso aqui que eu estou passando é resultado dele, resultado do machismo dele. Ele ainda me bateu. Eu só quero que ele vá preso, só isso. Estou sofrendo muito, só Deus sabe o tanto que eu estou sofrendo. Por favor, põe ele na cadeia, só isso que eu quero, que ele vá preso e pague o que ele fez comigo”, afirmou no vídeo que foi entregue pela mãe dela à polícia.

Investigação

Após a denúncia da vítima e da coleta de depoimentos de testemunhas, a Polícia Civil alterou o inquérito de acidente doméstico para tentativa de feminicídio.

Dara afirma que o relacionamento sempre foi abusivo, com agressões físicas e verbais por parte do marido. A jovem afirma que apesar da violência doméstica, sentia amor pelo companheiro, o que a impedia de terminar a relação.

“Nunca tive medo dele, eu gostava demais. Era amor. Sempre foi. Ele pedia perdão e falava que ia mudar. Eu sempre acreditei, eu nunca duvidei dele, das palavras dele. Eu sempre fui atrás dele, lutei por ele sempre.”

A vítima afirma que comentários de terceiros feitos sobre ela a Thiago motivaram o ataque no fim de maio. Ela diz que a lembrança do que sofreu a deixou traumatizada.

“Só de lembrar do dia dá uma coisa ruim em mim. Eu sinto que é como se eu estivesse vivendo tudo de novo. Eu vou ter que fazer tratamento com psicológico, fisioterapia, fono. A minha voz não voltou completamente. [foram] Conversas de pessoas maldosas que falavam coisas de mim, coisas que não existiam. Ele foi fraco, acreditou nas pessoas e não foi capaz de acreditar em mim, que estava ao lado dele.”

Dara Cristina se recupera de ataque do marido em Franca, SP — Foto: Kaíque Castro/EPTV

Dara Cristina se recupera de ataque do marido em Franca, SP — Foto: Kaíque Castro/EPTV

Recomeço difícil, mas necessário

Com ajuda da família, Dara tenta superar as marcas das agressões. Vaidosa, ela diz que o espelho tem sido seu inimigo.

“Me fere muito ficar me olhando, eu fico com vergonha de mim, do meu corpo. Me dói saber que eu vou perder meu pé. Eu quase morri, meus rins estavam parando. Os médicos não deram chance nenhuma, chegaram a ligar para minha família ir para São Paulo. Eu não posso ser egoísta porque tem pessoa que está pior que eu. Nunca imaginei que fosse passar por isso.”

Mas, com coragem, ela diz ter deixado a vida de agressões e maus-tratos para trás e pensa no recomeço ao lado dos filhos. A jovem também reflete sobre a violência contra mulheres.

“Eu espero uma vida melhor para mim, para meus filhos, um mundo melhor. Eu dou um conselho para as mulheres não se envolverem com qualquer pessoa, conhecer a pessoa. Eu o conheci e casei, já vim morar junto, praticamente. Para elas tomarem cuidado, muito cuidado. Não dá para confiar mais nas pessoas, é difícil. Eu espero que tudo dê certo na minha vida”, diz.

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