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Morre pai de vítima da Covid-19 que recolocou cruzes em protesto no Rio

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Márcio Antônio Silva tinha 58 anos e estava internado com problemas no coração. Ele era coordenador Censitário do IBGE da Subárea de Inhaúma.

Márcio Antônio Silva — Foto: Reprodução

Morreu no Rio, aos 58 anos, Márcio Antônio do Nascimento Silva, o pai que viralizou ao recolocar cruzes em um protesto em memória às vítimas da Covid — entre elas, o seu filho. Márcio também foi um dos convidados a depor na CPI da Covid, do Senado.

Márcio, que era coordenador Censitário do IBGE da Subárea de Inhaúma, estava internado com problemas no coração. O enterro estava previsto para a tarde desta terça-feira (4), no Cemitério São João Batista.

O ato na praia

Pai de um jovem que morreu de Covid-19 recoloca cruz na areia retirada por homem contrário ao protesto organizado pela ONG Rio de Paz — Foto: Reprodução
Pai de um jovem que morreu de Covid-19 recoloca cruz na areia retirada por homem contrário ao protesto organizado pela ONG Rio de Paz — Foto: Reprodução.

Hugo Dutra do Nascimento, filho de Márcio, morreu em abril de 2020 de complicações do coronavírus. O jovem era saudável e não integrava o grupo de risco, mas não resistiu após 16 dias internado.

Dois meses depois, a ONG Rio de Paz fez um protesto abrindo 100 covas nas areias da Praia de Copacabana e fincando cruzes a fim de cobrar ações do governo federal contra a pandemia. Naquele 11 de junho, o Brasil registrava 40 mil óbitos pela Covid. Hoje, são 686 mil vidas perdidas.

“Meu nome é Márcio. Pai do Hugo, que faleceu aos 25 anos de Covid 19. Só queria dizer que a dor do pai é muito grande. É ter que conviver todo o dia com essa dor, com os pensamentos. Tentar lidar com estes pensamentos”, disse o pai, em vídeo.

“Gostaria, por favor, que as pessoas tivessem mais empatia e compaixão pelas pessoas, pelas vítimas, por todos nós”, justificou à época.

O depoimento na CPI da Covid
Márcio acabou convidado a depor na CPI da Covid, do Senado, em outubro daquele ano.

“Eu acho que nós merecíamos um pedido de desculpa da maior autoridade do país. Porque não é questão política – se é de um partido, se é de outro. Nós estamos falando de vidas de pessoas. Cada depoimento aqui, eu acho que, em cada depoimento, um sentiu o depoimento do outro e acrescentou o que o outro tinha para falar, entendeu? Então, a nossa dor não é mimimi, nós não somos palhaços. É real”, afirmou.

A fala de Márcio fez referência a uma declaração do presidente Jair Bolsonaro em março de 2020 ao criticar medidas de prevenção à pandemia.

“Vocês não ficaram em casa. Não se acovardaram. Temos que enfrentar os nossos problemas. Chega de frescura, de mimimi. Vão ficar chorando até quando?”, disse o presidente durante evento em Goiás.

Márcio ainda entregou aos senadores 600 lenços brancos.

“O último momento que eu tive com o meu filho, que eu fui reconhecer, ele estava dentro de um saco. Eu tive que orar bastante, pedir a Deus para conseguir ir lá e reconhecer o meu filho, porque, como pai, era a última coisa que eu tinha que fazer por ele. Eu não pude dar um abraço no meu filho, eu não pude dar o último beijo. Eu cheguei a levar uma roupa para vesti-lo. Não consegui fazer nenhum ato simbólico, e um dos atos simbólicos: eu tive que ficar parado três horas, na porta do cemitério, ou quatro, olhando um carro, sabendo que o meu filho estava ali dentro, para ser enterrado”, emendou.

“Então, a minha dor não é ‘mimimi’. Não é, não é. Dói para caramba mesmo – dói, dói. Não aceito que ninguém aceite isso como normal. Não é normal. Não é minha só, não. É de todas as pessoas que perderam, de todas as pessoas que perderam pessoas tão queridas, porque todas são queridas. Não importa que meu filho tenha 25 anos, isso não é relevante. Não importa que a mãe dela tenha 80. São vidas, são pessoas que a gente ama, como todos aqui amam”, continuou.

Aos senadores, Márcio Nascimento disse que Bolsonaro deveria pedir desculpas, e que o sentimento que fica “não é só pela dor da morte”.

“É por tudo que veio depois, por cada deboche, cada sorriso, cada ironia. Isso é um desabafo, mas, para meu o coração, foi muito difícil, eu não conseguia entender isso. Por isso é que esta CPI foi tão importante para mim, porque alguém apareceu e falou assim: ‘Pô, não me deu, e daí?’. Alguém apareceu e falou assim: “Vou fazer alguma coisa por você”. Não importa se é partido, eu não quero saber. Isto aqui não é circo”, disse.

No mesmo dia, Flávio Bolsonaro se manifestou em um vídeo divulgado pela assessoria, no qual defendeu o pai e disse que “pessoas foram escolhidas a dedo para virem à CPI falarem mal do presidente Bolsonaro”.

O senador afirmou ainda que o governo “fez o dever de casa” e que Bolsonaro “fez e continuará fazendo o que está ao seu alcance”.

 

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