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Mais 80 agentes da Força Nacional devem reforçar saída de garimpeiros de Terra Indígena Yanomami

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Ministra dos Povos Originários, Sonia Guajajara, destaca o risco de escassez de alimentos e diz que garimpeiros podem roubar cestas básicas enviadas aos indígenas

(Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O primeiro dia da operação do governo federal para retirada do garimpo da Terra Indígena Yanomami foi de pouca ação de agentes de segurança e aumento de tensão. Garimpeiros não conseguem deixar o território por viagens aéreas, apesar de a Força Aérea Brasileira ter autorizado voos para este fim, em corredores especiais no espaço aéreo da terra indígena, fechado na semana passada. Depois de confirmadas as mortes de um ianomâmi e de um garimpeiro na reserva, no fim de semana (além de outro indígena ser resgatado ferido pela Polícia Federal), representantes dos invasores e dos povos originários temem mais violência, se a retirada não for agilizada.

— Tem um indígena no Hospital Geral de Roraima que contou que ia para a comunidade e os garimpeiros atiraram nele. Houve troca de tiros. A situação de conflito deve piorar — afirmou o presidente da Urihi, Júnior Hekurari Yanomami.

— Vai haver conflito — prevê o líder do Movimento Garimpo Legal, Jailson Mesquita. — Há quase 20 mil pessoas lá (invasores na reserva ianomâmi). Como vão sair, se só cabem cinco em cada avião, e não tem mais avião pequeno aqui em Roraima, pois os donos de garimpo retiraram todos? Isso vai terminar em tragédia, se nada for feito.

A Polícia Militar montou barreiras em estradas no interior de Roraima para recolher armas e carregamentos de cassiterita, metal que é tão procurado quanto o ouro na terra ianomâmi, de garimpeiros que eventualmente tivessem saído da reserva por terra. Ao mesmo tempo, agentes da Polícia Federal e da Força Nacional se instalaram em um quartel de Surucucu, base do governo na reserva ianomâmi.

A expectativa é de que hoje cheguem ao estado mais 80 homens da Força Nacional, com o ministro da Defesa, José Múcio, e o governador de Roraima, Antonio Denarium (PP), que ontem estava em Brasília. Os agentes devem reforçar imediatamente a retirada dos garimpeiros em comunidades indígenas na operação.

Enquanto o contingente total de 500 agentes previstos não chega a Roraima, garimpeiros fecharam pistas de pouso clandestinas que poderiam usar para deixar a reserva, descontentes com os preços de até R$ 15 mil que são cobrados por proprietários de helicópteros para fazer o voo de volta, e com a perspectiva de responderem na Justiça pela invasão. A revolta e a movimentação de outros invasores que tentam sair da reserva a pé aumenta o temor com a segurança dos ianomâmis.

Pedido de proteção

O secretário de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, Ricardo Weibe Tapeba, disse ontem, em Boa Vista, que deve pedir a inclusão de líderes ianomâmis em um programa de proteção do governo federal.

— Tivemos lideranças se sentindo ameaçadas — afirmou Tapeba, para quem somente com a saída do garimpo ilegal será possível aumentar o socorro médico aos ianomâmis. — A terra ianomâmi virou um campo de concentração. Estamos aguardando a reforma da pista (da base de Surucucu) para construir o novo hospital de campanha. Não temos condições de mandar equipes para a área. Apesar de a situação de desnutrição ser grave, só será possível reabrir unidades de saúde com saída de garimpeiros.

— Estamos recebendo muitas ameaças de morte dos garimpeiros. É importante que as lideranças sejam protegidas, somos a voz do povo ianomâmi — alertou Júnior Yanomami. — Estamos recebendo informações de ianomâmi assassinados e não temos como confirmar.

Entenda: Metade das pistas de pouso da Amazônia não tem registro, e terra indígena mais afetada é a Yanomami

A PF ainda investiga a morte de mais dois indígenas no fim de semana, denunciada por líderes da etnia. Os corpos estariam em uma área de difícil acesso.

Vídeos divulgados por garimpeiros em redes sociais mostram pessoas fechando pistas de pouso clandestinas na região de Homoxi. Mesquita, do Movimento Garimpo Legal, disse que foi criado um centro de apoio para ajudar a retirar quem estiver na terra indígena. Mas considera que não será um processo rápido ou mesmo pacífico.

— Eles (os garimpeiros) se agruparam próximo da pista de pouso, fecharam o local e esperam ajuda. Não têm comida, nem há como retirar ninguém em uma semana com avião pequeno.

Disputa por comida

Em entrevista na Globonews, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, explicou que muitos invasores estão deixando os garimpos menores e indo para os maiores, onde há maior estrutura e oferta de comida. A situação aumenta a pressão sobre os indígenas, que, segundo ela, já estão ficando sem alimentos.

— Há informações de indígenas de que eles (garimpeiros) podem inclusive já se apropriar das cestas básicas enviadas à região. A situação é de urgência — reconheceu Guajajara.

Outra preocupação é com a disseminação de doenças após a saída dos invasores. Há muitos garimpeiros com malária ou doenças sexualmente transmissíveis.

— Em Boa Vista, há a preocupação em articular ações de saúde para evitar que doenças sejam disseminadas. O Ministério da Saúde está trazendo essa situação para discutir um plano de ações emergenciais, envolvendo outros órgãos — disse.

Guajajara acrescentou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o governador Antonio Denarium estudam uma ação para recompor a renda de garimpeiros ilegais.

Em Brasília, Denarium reuniu-se ontem com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para tratar da criação de um programa social para os garimpeiros. O encontro confirmou a criação de uma comissão de senadores para acompanhar a crise na terra ianomâmi. A comissão será inicialmente formada pelos três senadores de Roraima: Mecias de Jesus (Republicanos-RR), Hiran Gonçalves (PP-RR) e Chico Rodrigues (PSB-RR).

Denarium propôs criar novas áreas de mineração, fora de áreas indígenas, para serem exploradas por cooperativas de garimpeiros.

— Ilegais ou não, são pessoas que precisam ser retiradas. Vão ficar sem emprego e sem fonte de renda — alertou Mecias, que esteve no encontro.

Para o senador, os “verdadeiros donos de garimpo” não estão na terra ianomâmi, e restaram apenas trabalhadores que buscam sustentar as famílias:

— Estão sem meios de sair. Pessoas morrendo de fome nas estradas, outras são assassinadas.</

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