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Indígenas voltam a protestar em Brasília contra projeto que dificulta demarcação de terras

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Na terça-feira (22), manifestantes e policiais entraram em confronto durante protesto; pelo menos seis pessoas ficaram feridas. Câmara dos Deputados tem esquema de segurança reforçado nesta quarta (23).

Protesto de indígenas na Câmara dos Deputados, nesta quarta-feira — Foto: Walder Galvão/G1

Indígenas realizam um novo protesto, nesta quarta-feira (23), próximo à Câmara dos Deputados, em Brasília. O ato é contra a votação do projeto de lei 490/2007, que dificulta a demarcação de terras indígenas e está na pauta da Comissão de Constituição de Justiça (CCJ) da Casa nesta manhã.

O novo ato ocorre um dia após um confronto entre os indígenas e policiais militares e legislativos, na terça (22). Pelo menos cinco pessoas ficaram feridas e o esquema de segurança na Câmara foi reforçado (veja mais abaixo).

Nesta quarta, os indígenas fizeram uma marcha ocupando três faixas do Eixo Monumental, na via S1, entre o Museu da República e o Congresso Nacional. A pista foi completamente interditada na altura do Palácio do Itamaraty.

Em seguida, os manifestantes foram em direção ao Anexo II da Câmara, onde houve o confronto no dia anterior. A maioria usa máscara de proteção facial, mas há registro de aglomeração.

O prédio foi isolado, assim como o Anexo IV. Policiais legislativos fazem segurança dos edifícios, enquanto a Polícia Militar acompanha o ato. Até a última atualização desta reportagem, não havia registro de ocorrência.

Policiais legislativos isolam Anexo IV da Câmara dos Deputados — Foto: Walder Galvão/G1
Policiais legislativos isolam Anexo IV da Câmara dos Deputados — Foto: Walder Galvão/G1
Anexo II da Câmara dos Deputados foi isolado nesta quarta-feira (23) — Foto: Luiz Felipe Barbiéri/G1
Anexo II da Câmara dos Deputados foi isolado nesta quarta-feira (23) — Foto: Luiz Felipe Barbiéri/G1.

Confronto

Na terça, o ato terminou com correria e confusão. Policiais legislativos e militares usaram bombas e gás lacrimogêneo contra os manifestantes. Já os indígenas atiraram flechas contra os seguranças.

Segundo a Câmara dos Deputados, os participantes do protesto tentaram invadir o Anexo II. A Casa afirma que um policial legislativo e um servidor administrativo da área foram atingidos por flechas na perna e no tórax. Ambos foram levados a um hospital particular.

Um policial militar também levou uma flechada no pé e, segundo a corporação, recebeu atendimento médico no local. A Câmara afirma que “não houve disparo de tiros ou qualquer tipo de agressão física contra os manifestantes”.

No entanto, a versão é diferente da apresentada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). Segundo a entidade, um jovem de 26 anos, do povo Sapará, de Roraima, foi atingido por balas de borracha no torso e bombas de efeito moral nas costas. Levado para o Hospital de Base, ele foi liberado no começo da noite.

Também ficaram feridos uma senhora o povo Guarani Kaiowá, de Mato Grosso do Sul, atingida por estilhaços de bomba e um indígena do povo Xokleng, da Região Sul, atingido pelo impacto de uma bomba de efeito moral. O grupo afirma que realizava uma “marcha pacífica” e foi recebido com bombas e spray de pimenta.

PL 490

Por conta da confusão, a sessão da CCJ desta terça foi suspensa. Na pauta estava o PL 490, que é uma das prioridades da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).

O texto prevê, entre outras medidas, a criação de um marco temporal para delimitar o que são terras tradicionalmente ocupadas pelos indígenas. Segundo o texto, são aquelas que, na data da promulgação da Constituição — isto é, 5 de outubro de 1988 — eram:

  • por eles habitadas em caráter permanente;
  • utilizadas para suas atividades produtivas;
  • imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar;
  • necessárias à sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.

Críticos da matéria argumentam que o texto ultrapassa os limites de um regulamento e tenta mudar preceitos da Constituição por meio de lei ordinária. Entidades ligadas aos direitos dos indígenas também afirmam que a Constituição funciona retroativamente, o que resguarda os direitos territoriais violados antes de 1988.

Já os defensores do projeto afirmam que ele apenas pretende dar “segurança jurídica” aos agropecuaristas.

Outro confronto

Janela da sede da Funai, em Brasília, foi atingida por flecha — Foto: Mara Puljiz/G1
Janela da sede da Funai, em Brasília, foi atingida por flecha — Foto: Mara Puljiz/G1.

No dia 16 de junho, a PM e os indígenas também entraram em confronto durante uma outra manifestação, na sede da Fundação Nacional do Índio (Funai), em Brasília. O grupo pedia uma reunião com o presidente da entidade.

Os PMs também usaram bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta. O batalhão de choque da corporação foi acionado. Já os índios atiraram flechas e objetos contra os militares. Uma das janelas do prédio foi quebrada por uma das flechadas (veja imagem acima).

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