quinta-feira, 02/05/2024
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Entenda os três principais recados do Banco Central ao manter a Selic em 13,75%

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BC adotou tom mais brando, mas ainda não indicou corte de juros na reunião de junho

Edifício-Sede do Banco Central em Brasília
Marcello Casal/ Jr Agência Brasil

O Banco Central manteve a taxa Selic em 13,75%, conforme esperado não só pelo mercado, mas também por integrantes da equipe econômica do governo. A decisão ocorre em meio a repetidas críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e integrantes do governo ao efeito dos juros sobre a atividade econômica.

Por outro lado, o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, ao lado dos oito diretores, entende que a batalha contra a inflação ainda não está vencida.

Confira abaixo os três principais recados do Comitê de Política Monetária:

1) Tom mais brando, mas sem indicação de corte

O Banco Central adotou um tom considerado mais brando no comunicado da decisão desta quarta-feira, mas não sinalizou que irá cortar os juros na próxima reunião em junho. O BC voltou a falar em “paciência e serenidade” na condução da política monetária e, apesar de ter voltado a dizer que há risco de alta dos juros, esse cenário ficou “menos provável”:

“O Comitê segue vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação. O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”, diz o Comunicado

Para Andrea Damico, sócia e economista-chefe da Armor Capital, ainda é um comunicado duro, seguindo a tradição das últimas reuniões, porém houve uma mudança “tímida” de tom, que começa a deixar a “porta um pouco aberta” para um movimento de queda de juros.

— O BC mantém aquele trecho sobre não hesitar em retomar o ciclo de ajustes caso o processo de desinflação não transcorra como esperado. Porém, é ressaltado que esse é uma cenário menos provável. Ou seja, subir juros é menos provável — avalia.

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2) Arcabouço fiscal não garante queda imediata dos juros

Esta foi a primeira decisão do Copom após a divulgação do arcabouço fiscal pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O Banco Central fez referência ao texto por três vezes. Primeiro, disse que, como ainda não foi votado, ainda não se sabe qual será o seu desenho final. Depois, afirmou que o arcabouço, por si só, diminui riscos, o que é positivo para a inflação. Por fim, afirmou que “não existe relação mecânica” entre a aprovação do texto e a queda da Selic:

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“O Copom enfatiza que não há relação mecânica entre a convergência de inflação e a aprovação do arcabouço fiscal, e avalia que a desancoragem das expectativas de longo prazo eleva o custo da desinflação necessária para atingir as metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional. Nesse cenário, o Copom reafirma que conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas”, menciona o Comunicado.

Marcelo Fonseca, economista-chefe do Opportunity Total, identifica que há um reconhecimento da redução das incertezas sobre o equilíbrio das contas públicas com a apresentação do regramento fiscal, e, em paralelo, sinalização do BC sobre a necessidade da versão final do texto gerar impacto positivo nas projeções.

— Ou seja, o Copom deixa claro ser necessário que as expectativas de inflação sejam positivamente impactadas pelo novo arcabouço para que este tenha um impacto na definição da Selic — avalia Fonseca.

Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, analisa que Banco Central não sinalizou de “nenhuma forma” corte nos juros, mas ele entende que há possibilidade de redução na próxima reunião, que ocorrerá dia 21 de junho.

— A nossa expectativa é que a próxima decisão será pautada por uma atividade econômica em ritmo mais lento, a convergência da inflação prospectiva para o centro da meta em ritmo mais adequado, além de menores ruídos da política fiscal. Dessa forma, a Austin Rating projeta que o colegiado votará pela redução da taxa Selic em 0,50 ponto porcentual, estabelecendo o novo valor em 13,25% ao ano — afirma.

3) Ênfase nas ‘expectativas de inflação’

Embora a inflação corrente esteja em queda, como vem mostrando o IBGE nas últimas divulgações do IPCA, o Banco Central mantém parte do seu foco nas expectativas de inflação. Segundo o Boletim Focus, que coleta as projeções do mercado financeiro, a projeção para o IPCA de 2024 está em 4,18%, acima dos 4,13% de um mês atrás. Mas se manteve estável nas últimas duas semanas. O problema é que a meta de inflação para o ano que vem é de 3%:

Já as projeções de inflação do Copom, em seu cenário de referência de efeito da política monetária, consideram uma taxa de 5,8% em 2023 e 3,6% em 2024. Por outro lado, as projeções para a inflação de preços administrados são de 10,8% em 2023 e 5,2% em 2024.

— Entendo que o Comunicado formaliza uma confiança no Ministério da Fazenda (em relação ao fiscal). Por outro lado, o BC não está otimista com o processo de desinflação. Há resiliência na atividade e um grau de desancoragem elevado das expectativas de inflação. A sinalização é que o BC não pretende subir e nem reduzir os juros tão cedo — analisa Vitor Martello, economista-chefe da Parcitas Investimentos.

Em eventos públicos recentes, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, tem defendido a condução da política monetária e ressaltado que a luta contra a inflação não foi vencida e que o BC vai continuar sendo “persistente”.

— O Copom segue indicando preocupação com a inflação corrente ainda elevada, expectativas desancoradas e incertezas com o desenho final do arcabouço fiscal, é possível perceber que houve mudança de tom, ainda que marginal, no sentido de indicar que está havendo evolução em relação a esses temas — Werther Vervloet, economista da Ace Capital

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