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Como o metaverso pode se tornar um estilo de vida

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Em entrevista ao Bússola, especialista em tecnologia e inovação comenta como a tendência pode ser uma ferramenta que será vista como um estilo de vida

Além das possibilidades de negócios, tecnologia também pode impactar na vida das pessoas (Getty Images/MR.Cole_Photographer)

O ambiente virtual, metaverso, tem sido tema de muitas matérias jornalísticas. O assunto virou o principal tema entre as empresas que usavam Realidade Virtual, hoje já oferecem serviços falando que utilizam a nova terminologia. O que era antes Realidade Aumentada, agora é um negócio usando a tendência. Tem um NFT? É Metaverso. Tem avatar? É metaverso.

Porém é necessário entender o que o metaverso é antes de qualquer coisa. Nem tudo pode ser denominado como a tecnologia. A Bússola conversou com Alexandre Uehara, fundador e responsável por comandar as operações da Inov8, consultoria de inovação, para entender o atual cenário, as possibilidades de negócios e como a novidade irá impactar na vida das pessoas.

Bússola: A tecnologia é para todos?

Alexandre Uehara: Tive uma conversa com uma artista plástica sobre o uso do NFT. Para uma artista que começou na velha economia, não faz nenhum sentido ter um NFT da própria arte. Mas talvez o NFT não seja para ela, mas sim para as gerações que estão chegando. Enquanto precisamos mudar o mindset e aprender esses novos termos, tecnologias e conceitos, as gerações mais novas já nascerão com elas. É o que aconteceu com a internet. A geração mais nova não sabe como é o mundo sem internet. Com o metaverso e outras tecnologias pode acontecer a mesma coisa. No filme Wall-e as pessoas estão sentadas dentro de uma outra realidade usando os óculos de realidade virtual e sem perceber estão dependentes e imersos em um mudo virtual e no real apenas engordando. Será o nosso futuro?

Além disso, se pensarmos que hoje a tecnologia que se usa para emergir no metaverso é a realidade virtual. Mas será que no futuro para emergir no metaverso realmente precisará dele? Será que não existirá algo que será possível entrar sem a realidade virtual?

E vamos mais além. Hoje, mesmo que a gente dependa nesse primeiro momento da realidade virtual, como podemos lidar com pessoas que têm vertigem e labirintite e consequentemente não podem usar essa tecnologia? Deixaremos elas de fora?

Bússola: Terá um domínio de uma única empresa no Metaverso?

Alexandre Uehara: Algumas perguntas polêmicas: será que teremos o domínio de uma empresa no metaverso? Ou quantos metaversos teremos? Caso tenhamos apenas uma empresa, como a Meta dominando, será que estaremos presos e dependentes deles? E nossos dados serão deles? Como hoje as Big techs já possuem, como o Google? Caso tenhamos um único metaverso e ele ficar fora do ar, o que acontecerá na economia (vide a dependência de muitos negócios pelo Whatsapp, que em 2021 teve uma queda, e muitas empresas ficaram sem vender).

No filme Jogador Número 1, a corrida é para quem vai dominar o metaverso Oasis após o criador falecer. Além disso, as pessoas estão dependentes do que acontece dentro do Oasis. Ficar de fora é um problema. Não ter poder aquisitivo (e consequentemente não ter os melhores óculos, ou não ter os melhores wearables, etc), pode fazer com que você não esteja na elite dos melhores, e não tenha as melhores experiências.

Ou seja, se tivermos uma única empresa dominando o metaverso, será que ficaremos dependentes dele para o resto da vida? Ou abriremos esse mundo, em que não haverá o domínio de uma única empresa, o chamado Open Metaverso? Em outras palavras, aberto na chamada Web3, fazendo com que as empresas se adequarem a essa realidade e não o contrário?

Bússola: Haverá Interoperabilidade se tivermos mais de uma empresa?

Alexandre Uehara: Há estudos que mostram que são mais de 160 empresas envolvidas no metaverso. Não é só a Meta (antigo Facebook), mas também Apple, Microsoft, Google, Discord, Unity, Fortnite, Nintendo, Nike, Adidas, e até a Disney.

Se não tivermos apenas uma empresa no domínio do Metaverso, mas sim vários metaversos diferentes ao mesmo tempo, como faremos que a experiência do usuário seja sem fricção? Por exemplo, como fazer para que a gente saia de um metaverso para outro?

É só pensarmos como são as reuniões hoje em dia e o nosso trabalho após o início da pandemia. Temos reuniões no Zoom, mas se o cliente usa Teams, e você não tem, lá vai a gente instalar e usar o Teams. Se o seu amigo gosta do Google, lá vai a gente abrir o Google Meet. Se seus amigos usam o Discord, lá vai a gente instalar outra ferramenta. Isso quando a gente não esquece a senha ou o aplicativo pede para atualizar na nova versão e a gente se atrasa na reunião.

No metaverso pode acontecer isso. Se comprarmos algo em um, talvez a gente não consiga retirar de lá e não consiga levar para outro metaverso. Por isso, desde já temos que pensar nessa interoperabilidade entre plataformas, para que tenhamos uma experiência fluída como usuário. Uma real experiência do cliente em que o cliente esteja no centro, e não as empresas. Pensem o quanto seria legal estar em um metaverso Oásis do filme Jogador Número 1, mas também no metaverso de Wall-e, e em um metaverso de competitividade como o do filme Tron, usando o mesmo avatar, acessórios, etc?

Hoje no mundo real, a cada compra, temos que baixar um aplicativo diferente. Se quer ter um desconto melhor em um posto de gasolina, precisamos baixar o app dele e lembrar do usuário e senha. Vai para uma farmácia precisa cadastrar um novo usuário e senha. Vai para uma loja e a compra é só dentro do app dele que você não tem cadastro. E assim, nossa vida atual fica sem uma experiência real e com muita fricção, e ao final dependentes de cada uma das empresas.

Bússola: Qual o impacto na vida das pessoas?

Alexandre Uehara: Hoje, temos uma grande preocupação com a vida das pessoas, em que muitos se emergem no celular (O brasileiro por exemplo passou em 2021, em média quase cinco horas e meia por dia. Ou seja, quase um terço do dia em que ficam acordados emergidos no celular). Algumas pessoas podem se preocupar com a fuga da realidade, e isso pode ser pior se o metaverso for realidade.

A imersão é muito maior, e realmente as pessoas perdem a noção do que é realidade e o que é virtual. É um exemplo para saber o quanto a nossa vida pode ser afetada, é mostrada no filme Matrix: Ressirrections, onde tanto Neo, como Trinity estão emergidos dentro da Matrix, sem noção da realidade e o que está acontecendo fora dela. Já no primeiro filme Matrix, Morpheus diz para Neo:

“Você já teve um sonho, Neo, que parecia ser verdadeiro? E se você não conseguisse acordar desse sonho? Como você saberia a diferença entre o mundo dos sonhos e o mundo real?”

Por isso o que pode acontecer e nos preocupar, é com o possível impacto do metaverso na vida das pessoas, com a falta de equilíbrio entre a vida offline e online. Ou em outras palavras existe a possibilidade de precisarmos ainda mais profissionais de saúde que possam cuidar dessas pessoas, e novas profissões assim, podem surgir ou se reinventar

Bússola: Haverá novas profissões?

Alexandre Uehara: Com a possibilidade de tecnologias serem aplicadas no metaverso, teremos novas profissões sendo criadas, e/ou reinventadas. Algumas coisas serão realizadas por Inteligência Artificial como o que Mark Zuckeberg mostrou para a Meta nesse vídeo. Ou até avatares com Inteligência Artificial com suas próprias personalidades como no metaverso do filme Free Guy. Por outro lado vai trazer novas possibilidades e profissões nunca vistas ou imaginadas como por exemplo, a utilização de cripto ativos no metaverso, onde teremos o potencial de crescimento de gestor de investimentos especializados em criptos.

E como se preparar para as possíveis oscilações delas? Provavelmente o mercado segurador entrará fortemente no metaverso precisando de pessoas com esse conhecimento, inclusive certificando o seguro em uma tecnologia como o NFT.

Já que falamos de NFT, ela será bastante utilizada não só em avatares exclusivos, mas também no mercado imobiliário digital. Ou seja, teremos a reinvenção do gestor de patrimônio.

Os profissionais de tecnologia também terão que se reinventar. Desde os profissionais de segurança da informação, segurança cibernética, como os profissionais de hardware. Hoje se nosso celular quebrar ou parar de funcionar, nós rapidamente queremos consertá-lo. Agora, com o metaverso teremos uma demanda alta para conserto dos óculos de realidade virtual.

Dentro do próprio metaverso, teremos especialista em ecossistema, desenvolvedores de avatares, designer digital entre outros. E claro, não podemos esquecer dos modeladores 3D para criar esses ambientes.

E o mercado de eventos? Como muita coisa acontecerá dentro do metaverso, haverá uma demanda para os profissionais de eventos, como organizadores de eventos digitais no metaverso.

Como diz a pesquisadora Amy Webb, daqui a dez anos vamos olhar o metaverso da mesma maneira que olharmos hoje para a internet. “Ninguém fala sobre a internet, apenas existe”, ou seja ela já está incorporada no nosso dia a dia. E digo mais: assim como a internet, todos os casos de usos e modelos de negócios a serem explorados no início serão bem diferentes no futuro.

Nunca foi imaginado no início da internet que ela seria utilizada para ver filmes, pedir comida, falar com sua avó por mensagens. Assim, esse texto pode ficar rapidamente desatualizado, mas neste momento temos sim que refletir nessas cinco perguntas.

 

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