A trajetória de Donald Trump para solidificar sua imagem como um “presidente mediador” ganhou novos capítulos recentemente. Ele realizou uma reunião na Casa Branca com Volodymyr Zelensky e uma nova ligação com Vladimir Putin, buscando estabelecer um cessar-fogo no conflito que já dura mais de três anos no Leste Europeu.
O encontro entre Trump e o presidente ucraniano, ocorrido na sexta-feira passada em Washington, não saiu conforme esperava Kiev. Zelensky aguardava um sinal positivo sobre o envio de mísseis de cruzeiro Tomahawk, mas retornou sem garantias.
O contexto mudou após uma ligação telefônica de 2h30 entre Trump e Putin, realizada um dia antes da reunião com o líder ucraniano. Durante a chamada, Trump adotou uma postura mais cautelosa, reconhecendo os limites do apoio militar dos EUA.
“Precisamos de Tomahawks para os EUA também. Temos muitos, mas precisamos deles”, afirmou Trump. “Não podemos esgotar nossos estoques estratégicos. Eles são vitais, poderosos e precisos”, completou, sinalizando um recuo sobre o envio às tropas ucranianas.
Quando questionado se Putin tentou dissuadi-lo, respondeu com ironia: “O que você acha que ele diria? ‘Por favor, venda Tomahawks?'”, riu ele.
Após a reunião, em uma coletiva de imprensa, Zelensky mencionou que discutiu o fornecimento dos mísseis, mas não confirmou avanços concretos, ressaltando que Washington não quer escalar o conflito com a Rússia.
Gestos diplomáticos e realismo
Antes do encontro, Trump disse acreditar que “a Rússia está pronta para resolver a situação na Ucrânia” e enfatizou que há uma “boa chance de acabar com essa guerra”. No entanto, evitou se comprometer com mais envios de armamento, destacando a importância de conservar os estoques americanos.
Durante a coletiva, ele admitiu o desgaste do conflito e afirmou que ele e Zelensky “suportaram muita coisa”. “Já faz tempo, e acho que estamos avançando bastante”, disse.
O líder ucraniano agradeceu a mediação, mas alertou sobre a postura do Kremlin. “Entendemos que Putin não está pronto, mas acredito que, com ajuda, podemos pôr fim a esta guerra”, declarou.
Trump como pacificador
Depois de mediar o cessar-fogo entre Israel e Hamas, Trump tenta desempenhar papel semelhante na guerra da Ucrânia. Ele se apresenta como um “presidente mediador” que gosta de resolver conflitos.
Porém, desta vez, a tarefa é mais complicada. Ele enfrenta um Putin firme, um Zelensky sob pressão e relações tensas entre Washington e Moscou.
O governo americano cogitou enviar mísseis Tomahawk à Ucrânia, medida que, segundo o Kremlin, poderia causar uma escalada séria. O porta-voz Dmitry Peskov alertou que tais armas podem estar equipadas com ogivas nucleares e aumentar o risco de confronto direto entre potências.
Diplomacia em xeque
As tensões aumentam após a cúpula do Alasca, quando Trump e Putin prometeram abrir caminho para a paz, mas as negociações ficaram paradas e o Kremlin reconheceu uma “pausa séria” no diálogo.
Agora, a atenção se volta para a cúpula em Budapeste nas próximas semanas. Segundo Trump, a reunião será bilateral, mas Zelensky continuará em contato.
Questionado sobre a possível cessão territorial ucraniana solicitada pela Rússia para viabilizar a trégua, ele respondeu de forma ambígua: “Nunca se sabe. A guerra é muito complexa. Nunca se sabe, tanto na guerra quanto na paz.”
Diálogo de Zelensky com líderes europeus
Após deixar a Casa Branca, Volodymyr Zelensky reuniu-se virtualmente com líderes europeus para relatar o encontro com Trump. Os líderes reafirmaram apoio à Ucrânia e destacaram que uma paz justa e duradoura é essencial para acabar com a violência.
O secretário-geral da Otan, Mark Rutte, também participou e confirmou a continuidade das discussões sobre apoio a Kiev, incluindo a Coalizão dos Dispostos.
Complexidade do cenário europeu
Para o especialista em direito internacional Pablo Sukiennik, a tentativa de Trump de aplicar a mesma estratégia usada no Oriente Médio ao conflito da Ucrânia enfrenta desafios diferentes. Enquanto no conflito Israel-Hamas os países terceiros não se envolveram diretamente, a guerra entre Rússia e Ucrânia conta com forte engajamento da União Europeia e Reino Unido, além de interesses diretos das potências envolvidas.
Isso torna as negociações mais difíceis e o resultado incerto, pois o cenário europeu é muito mais complexo.