RAÍSSA BASÍLIO
FOLHAPRESS
Um artigo publicado na revista científica Scientific Reports analisou como o álcool age em pessoas que usam medicamentos para emagrecer, como Ozempic, Wegovy e Mounjaro, que são agonistas de GLP-1. O estudo é um primeiro levantamento, com limitações, para ajudar pesquisadores a elaborarem estudos maiores no futuro.
Participaram 20 pessoas com obesidade e que consomem bebida socialmente. Metade delas usava medicamentos para emagrecer (semaglutida, liraglutida ou tirzepatida) e a outra metade não usava nenhum desses remédios. A maioria eram mulheres brancas, o que pode limitar os resultados para outras populações.
Entre quem usava remédios, a semaglutida foi a mais comum, com 60% dos participantes desse grupo. Liraglutida (como o Saxenda) e tirzepatida (como o Mounjaro) foram usadas por 20% cada. Como o grupo foi pequeno, não foi possível saber se há diferença importante entre esses medicamentos.
Como foi o experimento
O estudo aconteceu pela manhã, com os participantes em jejum. Depois de uma refeição comum, cada pessoa bebeu uma dose de bebida alcoólica (vodca com suco), calculada pelo peso de cada um. A quantidade visava alcançar uma concentração de álcool no ar expirado igual a 0,08 g/dL, que é o limite legal para dirigir em muitos países, inclusive nos Estados Unidos.
Durante quatro horas, os pesquisadores mediram a quantidade de álcool no ar que os participantes expiravam a cada 20 minutos, aplicaram questionários sobre a sensação de estar bêbado e mediram o nível de açúcar no sangue. Só liberaram os participantes quando o nível de álcool no hálito ficou abaixo de 0,02 g/dL, considerado seguro para dirigir.
Os resultados mostraram que quem usava os remédios GLP-1 demorava mais para sentir os efeitos do álcool no início, entre 10 e 20 minutos depois de beber. Isso acontece porque esses medicamentos atrasam o esvaziamento do estômago, fazendo com que o álcool entre no corpo mais devagar.
Esse efeito do medicamento age como um controle para o movimento da comida e bebida do estômago para o intestino. Esse atraso faz a pessoa se sentir satisfeita por mais tempo e também diminui a rapidez com que o álcool causa embriaguez. O estudo não trouxe números específicos sobre essa diferença.
Importante lembrar que essa desaceleração não impede a pessoa de ficar bêbada se continuar bebendo álcool. Apenas torna o processo mais devagar no começo. Para comparação, um estudo anterior com outro remédio da mesma classe, a dulaglutida, mostrou uma redução de 36% no consumo de bebidas alcoólicas.
Limitações do estudo
Os autores ressaltam que esse foi um estudo inicial, não um ensaio clínico mais rigoroso com grupo placebo ou tratamento padrão. Portanto, os dados são preliminares e não confirmam se esse atraso no processamento do álcool reduz o consumo ou o risco de abuso a longo prazo. O experimento foi realizado em laboratório, sem acompanhamento dos participantes por longo período.
O propósito principal foi gerar dados iniciais para preparar estudos mais profundos que possam avaliar com precisão se os agonistas de GLP-1 realmente ajudam a diminuir o consumo de álcool e se podem ser usados no tratamento do transtorno por uso de álcool.