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Pacientes precisam de cuidados médicos constantes após envenenamento por metanol

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Laiz Menezes
São Paulo, SP (FolhaPress)

Os efeitos mais comuns após o envenenamento por metanol são a perda total ou parcial da visão e problemas no sistema nervoso, como tremores, dificuldade para caminhar e falhas de memória. Mesmo após o quadro estabilizar, é necessário que os pacientes continuem sendo acompanhados por médicos regularmente.

O tratamento envolve consultas com neurologistas e oftalmologistas, além de exames como ressonância magnética, testes de visão e avaliações cognitivas. De acordo com o neurocirurgião Afonso Aragão, da Rede D’Or, os perigos não desaparecem após a alta hospitalar, pois os danos podem aparecer semanas ou meses após a exposição ao metanol. O tratamento deve continuar por pelo menos um ano, podendo se estender por cinco anos ou até mais.

Segundo dados recentes do Ministério da Saúde, o Brasil registrou 41 casos confirmados de envenenamento por metanol, com oito mortes — seis em São Paulo e duas em Pernambuco.

O metanol prejudica principalmente o nervo óptico e certas áreas do cérebro responsáveis pela visão e coordenação motora.

A hepatologista Natalia Trevizoli, do Hospital Sírio-Libanês, ressalta que o acompanhamento médico é fundamental, especialmente nos primeiros meses após a intoxicação. O fígado, órgão que primeiro processa o metanol, transforma a substância em ácido fórmico, que é tóxico e causa danos aos órgãos e tecidos do corpo.

Além dos exames pelo cérebro e visão, é importante monitorar o funcionamento dos rins, fígado e eletrólitos no sangue.

“As chances de recuperação total são maiores se o tratamento começar rapidamente, nas primeiras horas após o contato com o metanol. Quando o metanol já foi processado pelo fígado, ele pode causar sérios danos ao nervo óptico e ao cérebro. Alguns pacientes precisarão de acompanhamento por muito tempo ou até para o resto da vida, principalmente com neurologistas e oftalmologistas, para tratar as sequelas e ajustar a reabilitação”, explica.

Afonso Aragão afirma que, apesar da recuperação total ser possível, ela é rara. O sucesso depende da gravidade da intoxicação, da idade do paciente e da rapidez no início do tratamento.

Ele destaca que a recuperação ocorre devagar porque o cérebro precisa de tempo para regenerar células e reorganizar suas funções. Muitas vezes, as sequelas permanecem por meses ou anos e, nos casos mais graves, podem ser permanentes, demandando fisioterapia e reabilitação psicológica.

O oftalmologista Evandro Schapira, do hospital Alvorada Moema da Rede Américas, aponta que os danos ao nervo óptico causados pelo metanol podem ser irreversíveis. A consequência mais comum é a cegueira ou a visão embaçada, pois o nervo óptico transmite as imagens dos olhos para o cérebro.

Depois da lesão, o tratamento visa apenas a reabilitação visual, ajudando o paciente a se adaptar à nova condição. Não existem medicamentos ou procedimentos que revertam o dano, e o acompanhamento é focado em auxiliar o paciente a lidar com a perda de visão e manter sua autonomia diária.

Um estudo de 2023 publicado na Frontiers in Medicine acompanhou 14 pessoas com intoxicação por metanol inalado durante seis meses: todos melhoraram, porém nenhum recuperou completamente a visão.

Inicialmente, 21 olhos das pessoas afetadas não percebiam luz; após seis meses, 16 olhos apresentaram melhora parcial e cinco permaneceram cegos.

Os primeiros sintomas do envenenamento por metanol incluem tontura, sonolência, fraqueza e sensação de relaxamento, semelhantes a uma ressaca. Esses sintomas podem evoluir para náuseas, vômitos, dor de cabeça, confusão, batimentos acelerados, queda de pressão, dificuldade de coordenação e problemas respiratórios. Entre 6 e 24 horas após a ingestão, a visão fica turva, sensível à luz, com pupilas dilatadas e perda da percepção das cores.

Nos hospitais, o tratamento envolve hidratação intravenosa, esvaziamento do estômago se a ingestão foi recente, correção do equilíbrio ácido-base do corpo, uso de antídotos e hemodiálise para eliminar o veneno.

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