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Contato com a natureza melhora a saúde mental na idade adulta

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Crianças que vivem essa experiência podem se tornar adultos menos vulneráveis ao surgimento de problemas como nervosismo e depressão, mostra estudo espanhol. Resultado reforça a importância de levar os pequenos a ambientes livres

A ida regular tanto a áreas verdes como parques, quanto às azuis, florestas e praias, por exemplo, gera benefícios
(foto: Daniel Mihailescu/AFP)

O contato com a natureza durante a infância pode gerar benefícios à saúde mental na idade adulta, preservando indivíduos de males como depressão e ansiedade. Pesquisadores do Instituto Barcelona para a Saúde Global (ISGlobal) identificaram essa relação preventiva ao avaliar dados de quase 3.600 adultos moradores de quatro cidades europeias: Barcelona (Espanha), Doetinchem (Holanda), Kaunas (Lituânia) e Stoke-on-Trent (Reino Unido). O resultado do trabalho foi divulgado ontem, no International Journal of Environment Research and Public Health.

Wilma Zijlema, pesquisadora do ISGlobal e coordenadora do estudo, ressalta que as conclusões “mostram a importância da exposição infantil aos espaços naturais para o desenvolvimento de uma atitude que valoriza a natureza e um estado psicológico saudável na vida adulta”. A especialista lembra que 73% da população da Europa vive em áreas urbanas com acesso frequentemente limitado a espaços verdes. Em muitos outros países fora do continente, o cenário não é diferente. “Portanto, é importante reconhecer as implicações do crescimento em ambientes com limitações oportunidades de exposição à natureza”, acrescenta.

Os autores do estudo defendem que o contato com a natureza passe a ser uma preocupação de autoridades de saúde pública e que, de alguma forma, seja considerada um cuidado essencial para o desenvolvimento infantil, como a vacinação. “Muitas crianças levam um estilo de vida em ambientes fechados. Por isso, seria desejável que os ambientes naturais estivessem disponíveis, fossem atraentes e seguros. Fazemos um apelo aos formuladores de políticas para melhorar a disponibilidade de espaços naturais para elas”, frisa Mark Nieuwenhuijsen, diretor da Iniciativa de Planejamento Urbano, Meio Ambiente e Saúde da ISGlobal.

Do quintal à praia

A exposição a ambientes externos naturais tem sido associada a vários benefícios à saúde, incluindo melhor desenvolvimento cognitivo e físico. Porém, segundo o ISGlobal, poucas pesquisas exploraram o impacto dessa experiência ao longo da vida e a maioria considera mais espaços verdes (jardins, parques urbanos etc.) do que espaços azuis (lagoas, rios, lagos e praias, por exemplo).

Desta vez, a equipe usou um questionário com perguntas referentes à frequência com que adultos, quando crianças, frequentaram espaços naturais intencionais, como ir a um parque natural, e os espaços não intencionais, por exemplo, brincar em um quintal. Os participantes também responderam sobre o contato com a natureza na vida adulta: se sentem satisfeitos com essa experiência e a importância que dão aos espaços verdes.

Quanto à saúde mental, testes psicológicos aplicados sinalizaram a existência de nervosismo e sentimentos de depressão ao longo das quatro semanas anteriores, bem como a vitalidade — níveis de energia e fadiga — dos respondentes. Por fim, imagens de satélite ajudaram os cientistas a avaliar o verde circundante à área residencial dos participantes da pesquisa.

Os resultados mostram que os adultos menos expostos a espaços naturais durante a infância tiveram escores mais baixos em testes de saúde mental, comparados àqueles com maior exposição. A equipe constatou ainda a vivência em áreas verdes pode interferir na forma com que os indivíduos valorizam essa experiência. Segundo Myriam Preuss, primeira autora do estudo, “em geral, os participantes com menor exposição na infância à natureza deram menor importância aos ambientes naturais”. Não foi encontrada associação entre a exposição na infância e vitalidade na vida adulta.

Risco 55% menor

Pesquisadores dinamarqueses conseguiram quantificar os benefícios a longo prazo de estar rodeado de natureza na infância. Com base em dados de satélite de 1985 a 2013, cientistas da Universidade de Aarhus mapearam a presença de espaços verdes em torno dos lares de quase 1 milhão de crianças do país, compararam as informações com o risco de surgimento de 16 transtornos mentais e concluíram que crescer em ambientes mais verdes reduz em até 55% o risco de um adulto desenvolver problemas como depressão.

“Com o nosso conjunto de dados, mostramos que o risco de desenvolver um transtorno mental diminui gradativamente quanto mais tempo você estiver cercado por espaços verdes desde o nascimento até os 10 anos de idade. O espaço verde durante toda a infância é extremamente importante”, frisa, em comunicado, Kristine Engemann, líder do estudo, divulgado, em fevereiro, no periódico americano Pnas.

A proteção se manteve quanto a equipe ajustou fatores de riscos conhecidos, como condição econômica e histórico familiar de transtornos mentais. Jens-Christian Svenning, coautor do estudo, ilustra a importância dos resultados. “O acoplamento entre saúde mental e acesso a espaços verdes é algo que deve ser considerado ainda mais no planejamento urbano para garantir cidades mais verdes e saudáveis e melhorar a saúde mental dos residentes.”

 

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