A conexão entre o mercado financeiro e as mudanças climáticas é semelhante à mensagem moral da fábula nº 87 do antigo contador de histórias grego Esopo — “A Galinha dos Ovos de Ouro”. Caso tenha uma fonte de riqueza promissora para o médio e longo prazo, é fundamental evitar a retirada imediata de todos os recursos. Caso contrário, essa fonte pode se exaurir e seus planos podem fracassar.
Não é possível confirmar que todas as fábulas atribuídas a Esopo foram realmente escritas por ele, uma vez que viveu há cerca de 2.500 anos. Ainda assim, seus ensinamentos permanecem válidos até hoje. No contexto dos negócios na era do antropoceno, a galinha representa o próprio planeta Terra.
É nesse contexto que surge o conceito de ESG – Environmental, Social and Governance (práticas ambientais, sociais e de governança). O termo ganhou relevância após o então Secretário Geral da ONU, Kofi Annan, alertar cinquenta CEOs de instituições financeiras há cerca de vinte anos. Se Esopo estivesse presente, teria dito que “quem cuida da galinha ganha os ovos de ouro”. A sigla ESG popularizou-se com a publicação do documento “Who Cares Wins” (Pacto Global / Banco Mundial, 2004), cujo título é claro — “quem se importa vence”.
Importante ressaltar que o ESG não é um conceito ligado apenas a ativismo ambiental. Trata-se de uma abordagem consolidada, aceita por lideranças de bancos, fundos de investimento, bolsas de valores, agências de risco e empresas de diversos setores. Não representa uma ideia contrária ao capitalismo, mas uma visão atualizada sobre as incertezas e expectativas que redesenham o viés dos negócios.
Segundo a líder em tecnologia TOTVS, o ESG propõe um novo modo de interpretar o mercado com base em pilares como “Segurança do investidor, Competitividade e Reputação”. Em outras palavras, organizações que adotam novas tecnologias e métodos, preparadas para as adaptações climáticas e seus efeitos sobre a sociedade e a cadeia produtiva, se mostram mais resistentes e conquistam maior confiança por parte de investidores, governo, clientes e outros interessados. “Observa-se um maior envolvimento dos investidores e fundos globais relevantes, que exigem posicionamentos concretos quanto ao tema”.
De maneira semelhante, a Morgan Stanley recomenda avaliar a influência dos fatores ESG nas análises de desempenho financeiro, tanto por setor quanto individualmente para empresas. “Os investidores estão cada vez menos questionando se o ESG agrega valor e mais preocupados em como e onde aplicá-lo”. Essas avaliações consideram impactos em fluxo de caixa, rentabilidade, preço das ações, spreads, riscos específicos e seleção de investimentos, conforme evidenciado no relatório “Comparing Risk and Performance for Absolute and Relative ESG Scores” (MSCI, 2020).
Ferramentas e estratégias ESG são cruciais especialmente em setores com significativa pegada ambiental, como mineração, agricultura e energia. Ainda mais nos países do Sul Global, onde as transformações sociais e econômicas causadas pelas mudanças climáticas são mais severas para as populações, biomas e infraestrutura. Neste cenário, negócios e investimentos privados são atores importantes — tanto ativos quanto passivos — nos fenômenos climáticos. Tentar prosperar ou simplesmente sobreviver isoladamente é o mesmo que abrir a galinha dos ovos de ouro e não encontrar nem lucro nem benefício.
Felipe Sampaio é cofundador do Centro Soberania e Clima; tem experiência em grandes empresas, terceiro setor e organismos internacionais; foi empreendedor no setor de mineração; liderou a área de estatísticas do Ministério da Justiça; exerceu cargo de direção no Instituto Pandiá no Ministério da Defesa; e atuou como subsecretário de Segurança Urbana na cidade do Recife.